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Lendas Populares da Amazonia
Curupira
Contador: Reginaldo Ramos de Brito
Nós ouvimos, às vezes, histórias
que até duvidamos que tenham acontecido, como, por exemplo,
a história que eu vou contar de um grupo de colonos que tinham
como distração a caça.
Missena, Alvidio e Pedro, três caçadores, costumavam
caçar aos finais de semana nas redondezas de suas próprias
terras.
Em uma dessas caçadas, os seus cachorros acuaram uma caça
que pensavam ser um veado, mas um veado diferente, esperto. Começaram
a perseguição. Os cachorros latiam, perseguiam o veado,
mas nada de pegar o bicho que fugia e até parecia zombar
dos caçadores que atiravam. Eles não entendiam por
que não tinham conseguido matar o animal. Alvidio contava:
- Eu estive de frente com o veado, atirei, mas não acertei.
Os colonos continuaram suas caçadas aos finais de semana
e sempre se depararam com o veado. Alvidio e Pedro ausentaram-se
de suas caçadas, estavam desconfiados. Missena continuou.
Até que um dia conseguiu matar o veado. Ao matar o animal,
teve uma grande decepção, começou a sentir
forte dor de cabeça.
Seus parentes, preocupados com a doença de Missena, procuravam
recursos para sua melhora e nada resolvia; faziam todos os tipos
de remédios. Então o levaram ao pajé. Ao chegar
à casa de umbanda, o pajé foi logo dizendo:
- Você esteve mexendo com coisa que não devia mexer.
Você sabe, o veado que você matou...
- Sim, faz uma semana, eu notei alguma coisa estranha, mesmo assim
matei.
- Não era para você ter feito isso porque aquele veado
era o cavalo do curupira, agora se você quiser viver, você
vai ter que se ausentar por algum tempo.
Missena fez o que o pajé lhe havia ordenado. Ficou curado
e nunca mais duvidou dos espíritos da natureza.
Matinta Pereira
Contador: Valdemira S. Pinto
Era uma vez uma senhora que virava matinta perera.
Num belo dia, ela estava passando pela casa de uma mulher que era
crente e que tinha ido ao quintal pegar umas folhas de erva cidreira
para fazer um chá para seu filho que estava com febre.
Quando a mulher voltou e já ia fechando a casa, a matinta
perera assoviou forte e bem perto da senhora, que falou:
- Sangue de Jesus te repreenda!
Nesse momento a matinta perera caiu bem perta da porta da senhora...
No dia seguinte, bem cedo, a senhora foi acordada por uma velha
que lhe pedia que não contasse nada para ninguém.
A partir desse dia a senhora nunca mais ficou boa, ficou sempre
doente até falecer.
Mapinguari
Contador: Francisca Sarmento Alves
Certa vez, no meio da selva, longe do município
de Paragominas, no interior do Pará, havia um casebre humilde
onde morava uma mulher chamada Edna com duas crianças.
O pai estava ausente, era caçador e se encontrava longe,
na selva, a exercer sua função.
É de costume de caçador, quando está no meio
da mata, comunicar-se com um grito.
Uma noite, já bem tarde, do meio da selva alguém gritou...
E, em seguida, gritou de novo.
O menino já sabendo do costume respondeu ao grito uma, duas,
três vezes.
A mãe que observava o filho, percebendo que o grito se aproximava,
teve medo e, lembrando-se da história do mapinguari, apagou
o fogo o mais rápido que pôde e pediu ao filho que
fizesse silêncio, pois o grito lhe parecia estranho e a fumaça
atraía o bicho.
Então o grito estranho foi ficando distante e foi se perdendo
selva a dentro até desaparecer.
No dia seguinte, à noite, o esposo chegandoda
caçada deu notícia à mulher da morte do mapinguari
em uma fazenda distante dali dois dias de viagem. O tal bicho foi
morto pelos empregados da fazenda, segundo depoimentos de pessoas
que o viram e de outras que não conseguiram se aproximar
do local, pois o mapinguari exala um odor insuportável.
A velha que virava porca
Contador: Eliezer Silva
Era uma vez uma mulher que virava porca.
Toda noite a mulher ia a uma casa e ficava rodeando.
Certa vez, ela foi rodear a casa de um senhor daqui de perto. O
dono ouviu o barulho do bicho e saiu para ver o que era.
Viu, então, a porca e se escondeu atrás da casa. Quando
a porca apareceu, ele pegou um pedaço de pau e quebrou as
duas pernas dela.
No outro dia, ele ia passando em frente a uma casa quando enxergou
uma velhinha com as duas pernas quebradas. E foi assim que ele descobriu
quem virava porca.
A MATINTA PERERA E
O CURUPIRA
Contador: Carlos Alberto Neto
Era uma vez um menino que estava em casa e
seu pai tinha ido pescar.
De repente, o menino olhou uma luz vermelha e saui de casa para
ver o que era. Foi aí que ele viu uma velha de cabelo longo
e olhos vermelhos. Com medo, ele saiu correndo. Quando ele viu,
o curupira, que tinha os pés voltados para trás e
os cabelos de fogo, o pegou e queria matá-lo.
Mas o menino fugiu. Pegou uns cipós e começou a fazer
nós bem pequenos. Depois os jogou para trás. O curupira
parou para tentar desfazer os nós. Nisso o menino correu
em direção ao rio. Ao chegar lá, encontrou
o seu pai e eles se abraçaram, mas, na verdade, era a matinta
perera transformada. Então, ela o encantou.
Quando o pai voltava de uma alegre pesca, viu o curupira correndo
na mata, mas nem ligou.
Ao chegar em casa, sentiu a falta de seu filho. Voltou imediatamente
para a mata, levando consigo um saco de arroz.
Não demorou para avistar o curupira.
Rapidamente jogou o saco de arroz no mato e o curupira começou
a comer o arroz. O pescador, então, deu um tiro na testa
do curupira e o matou.
Infelizmente, o pescador nunca mais pôde ter seu filho de
volta porque a matinta perera havia dado o espírito do menino
para o boto, que o levou para o fundo do rio.
Guaraná
Em uma aldeia dos índios Maués
havia um casal, com um único filho, muito bom, alegre e saudável.
Era muito querido por todos de sua aldeia, o que levava a crer que
no futuro seria um grande chefe guerreiro.
Isto fez com que Jurupari, o Deus do mal, sentisse muita inveja
do menino. Por isso resolveu matá-lo. Então, Jurupari
transformou-se em uma enorme serpente e, enquanto o indiozinho estava
distraído, colhendo frutinhas na floresta, ela atacou e matou
a pobre criança.
Seus pais, que de nada desconfiavam, esperaram em vão pela
volta do indiozinho, até que o sol foi embora. Veio a noite
e a lua começou a brilhar no céu, iluminando toda
a floresta. Seus pais já estavam desesperados com a demora
do menino. Então toda a tribo se reuniu para procurá-lo.
Quando o encontraram morto na floresta, uma grande tristeza tomou
conta da tribo. Ninguém conseguia conter as lágrimas.
Neste exato momento uma grande tempestade caiu sobre a floresta
e um raio veio atingir bem perto do corpo do menino.
Todos ficaram muito assustados. A índia-mãe disse:
"...É Tupã que se compadece de nós. Quer
que enterremos os olhos de meu filho, para que nasça uma
fruteira, que será nossa felicidade".
Assim foi feito. Os índios plantaram os olhinhos da criança
imediatamente, conforme o desejo de Tupã, o rei do trovão.
Alguns dias se passaram e no local nasceu uma plantinha que os índios
ainda não conheciam. Era o Guaranazeiro. É por isso
que os frutos do guaraná são sementes negras rodeadas
por uma película branca, muito semelhante a um olho humano.
Boto
Conta a lenda que o boto, peixe encontrado nos
rios da Amazônia, se transforma em um belo e elegante rapaz
durante a noite, quando sai das águas à conquista
das moças. Elas não resistem à sua beleza e
simpatia e caem de amores por ele. O Boto também é
considerado protetor das mulheres, pois quando ocorre algum naufrágio
em uma embarcação em que o boto esteja por perto,
ele salva a vida das mesmas empurrando-as para as margens dos rios.
As mulheres são conquistadas pelo boto às margens
dos rios, quando vão tomar banho ou mesmo nas festas realizadas
nas cidades próximas aos rios. Os Botos vão aos bailes
e dançam alegremente com elas, que logo se envolvem com seus
galanteios e não desconfiam de nada. Se apaixonam e engravidam
deste rapaz. É por esta razão que ao Boto é
atribuída a paternidade de todos os filhos de mães
solteiras.
Peixe Boi
Para explicar a origem do Peixe-Boi os índios
contavam uma lenda que dizia que em uma certa tribo indígena,
habitante do vale do Rio Solimões, no Amazonas, foi realizada
uma grande festa da moça nova e pela ação de
Curumi.
O pajé mandou que a moça nova e o Curumi mergulhassem
nas águas do rio. Quando mergulharam o pajé jogou,
em cima de cada um deles, uma tala de canarana. Quando voltaram
à tona já haviam se transformado em PEIXE-BOI.
A partir deste casal nasceram todos os outros peixes-boi. É
por esse motivo que eles se alimentam de canarana
TambaTaja
Na tribo Macuxi havia um índio forte
e muito inteligente. Um dia ele se apaixonou por uma bela índia
de sua aldeia. Casaram-se logo depois e viviam muito felizes, até
que um dia a índia ficou gravemente doente e paralítica.
O índio Macuxi, para não se separar de sua amada,
teceu uma tipóia e amarrou a índia à sua costa,
levando-a para todos os lugares em que andava. Certo dia, porém,
o índio sentiu que sua carga estava mais pesada que o normal
e, qual não foi sua tristeza, quando desamarrou a tipóia
e constatou que a sua esposa tão querida estava morta.
O índio foi à floresta e cavou um buraco à
beira de um igarapé.
Enterrou-se junto com a índia, pois para ele não havia
mais razão para continuar vivendo.
Algumas luas se passaram. Chegou a lua cheia e naquele mesmo local
começou a brotar na terra uma graciosa planta, espécie
totalmente diferente e desconhecida de todos os índios Macuxis.
Era a TAMBA-TAJÁ, planta de folhas triangulares, de cor verde
escura, trazendo em seu verso uma outra folha de tamanho reduzido,
cujo formato se assemelha ao órgão genital feminino.
A união das duas folhas simboliza o grande amor existente
entre o casal da tribo Macuxi.
O caboclo da Amazônia costuma cultivar esta curiosa planta,
atribuindo a ela poderes místicos.
Se, por exemplo, em uma determinada casa a planta crescer viçosa
com folhas exuberantes, trazendo no seu verso a folha menor, é
sinal que existe muito amor naquela casa. Mas se nas folhas grandes
não existirem as pequeninas, não há amor naquele
lar. Também se a planta apresenta mais de uma folhinha em
seu verso, acredita-se então que existe infidelidade entre
o casal.
De qualquer modo, vale a pena cultivar em casa um pezinho de TAMBA-TAJÁ.
O Caipora
O Caipora é o protetor dos animais e
plantas da floresta. Sua atividade consiste em espantar os animais
para que os caçadores não possam matá-los.
Quando encontra um caçador no mato, o Caipora começa
a andar sem rumo certo até que o caçador se perca
na floresta, não encontrando mais o caminho de volta para
casa.
O Caipora possui o corpo todo coberto de pêlos e é
muito rápido, razão pela qual o homem não consegue
alcançá-lo.
Anda sempre montado em um porco-do-mato e galopa pela floresta cumprindo
sua missão.
Costuma também, para desnortear os caçadores, emitir
um estridente assobio que causa arrepios de pavor a todos aqueles
que o escutam.
Seu nome significa "HABITANTE DO MATO".
Em algumas regiões do Brasil, o Caipora é também
conhecido por CURUPIRA.
Lenda do sol
Para os índios o sol era gente e se chamava
KUANDÚ. Kuandú tinha três filhos: um é
o sol que aparece na seca; o outro, mais novo, sai na chuva e o
filho do meio ajuda os outros dois quando estão cansados.
Há muito tempo um índio Juruna teria comido o pai
de KUANDÚ.Por isso este queria se vingar. Uma vez Kuandú
estava bravo e foi para o mato pegar coco. Lá encontrou Juruna
em uma palmeira inajá. Kuandú disse que ele ia morrer,
mas Juruna foi mais rápido acertando Kuandú com um
cacho na cabeça. Aí tudo escureceu. As crianças
começaram a morrer de fome porque Juruna não podia
trabalhar na roça e nem pescar. Estava tudo escuro. A mulher
de Kuandú mandou o filho sair de casa e ficou claro de novo.
Mas só um pouco porque era muito quente para ele. O filho
não aguentou e voltou para casa. Escureceu de novo. E assim
ficaram os 3 filhos de Kuandú. Entrando e saindo de casa.
Portanto, quando é seca e sol forte é o filho mais
velho que está fora de casa. Quando é sol mais fraco
é o filho mais novo. O filho do meio só aparece quando
os irmãos ficam cansados.
Vitória Regia
Em uma tribo indígena da Amazônia
vivia uma bela índia chamada Naiá. Ela acreditava
que a lua escolhia as moças mais bonitas e as transformava
em estrelas que brilhariam para sempre no firmamento. A índia
Naiá também desejava ser escolhida pela lua para ser
transformada em uma estrela.
Todas as noites ela saía de sua oca a fim de ser vista pela
lua mas, para sua tristeza, a lua não a chamava para junto
de si.
Naiá já não dormia mais. Passava as noites
andando na beira do lago, tentando despertar a atenção
da lua .
Em uma noite, a índia viu, nas águas límpidas
de um lago, a figura da lua. A pobre moça, imaginando que
a lua havia chegado para buscá-la, se atirou nas águas
profundas do lago e morreu afogada.
A lua, comovida diante do sacrifício da bela jovem, resolveu
transformá-la em uma estrela diferente, daquelas que brilham
no céu. E ainda resolveu imortalizá-la na terra, transformando-a
em uma delicada flor: a VITÓRIA-RÉGIA (estrela das
águas).
Curiosamente as flores desta planta só abrem durante a noite.
É uma flor de perfume ativo e, suas pétalas, que ao
desabrocharem são brancas, tornam-se rosadas quando os primeiros
raios do sol aparecem.
Muiraquitã
Antigamente havia uma tribo de mulheres guerreiras,
as ICAMIABAS, que não tinham marido e não deixavam
ninguém se aproximar de sua taba. Manejavam o arco e a flecha
com uma perícia extraordinária. Parece que Iací
, a lua, as protegia.
Uma vez por ano recebiam em sua taba os guerreiros Guacaris, como
se fossem seus maridos. Se nascesse uma criança masculina
era entregue aos guerreiros para criá-los, se fosse uma menina
ficavam com ela.
Naquele dia especial, pouco antes da meia - noite, quando a lua
estava quase a pino, dirigiam-se em procissão para o lago,
levando nos ombros potes cheios de perfumes que derramavam na água
para o banho purificador.
À meia- noite mergulhavam no lago e traziam um barro verde,
dando formas variadas: de sapo, peixe, tartaruga e outros animais.
Mas é a forma de sapo a mais representada por ser a mais
original. Elas davam aos Guacaris, que traziam pendurados em seu
pescoço, enfiados numa trança de cabelos das noivas,
como um amuleto.
Até hoje acredita-se que o Muiraquitã traz felicidades
a quem o possui, sendo, portanto, considerado como um amuleto de
sorte.
Açai
Há muito tempo atrás, quando ainda
não existia a cidade de Belém, vivia neste local uma
tribo indígena muito numerosa.
Como os alimentos eram escassos, tornava-se muito difícil
conseguir comida para todos os índios da tribo. Então
o cacique Itaki tomou uma decisão muito cruel. Resolveu que
a partir daquele dia todas as crianças que nascessem seriam
sacrificadas para evitar o aumento populacional de sua tribo.
Até que um dia a filha do cacique, chamada IAÇÃ,
deu à luz uma bonita menina, que também teve de ser
sacrificada.
IAÇÃ ficou desesperada, chorava todas as noites de
saudades de sua filhinha. Ficou vários dias enclausurada
em sua tenda e pediu à Tupã que mostrasse ao seu pai
outra maneira de ajudar seu povo, sem o sacrifício das crianças.
Certa noite de lua IAÇÃ ouviu um choro de criança.
Aproximou-se da porta de sua oca e viu sua linda filhinha sorridente,
ao pé de uma esbelta palmeira. Inicialmente ficou estática,
mas logo depois, lançou-se em direção à
filha, abraçando - a . Porém misteriosamente sua filha
desapareceu.
IAÇÃ, inconsolável, chorou muito até
desfalecer. No dia seguinte seu corpo foi encontrado abraçado
ao tronco da palmeira, porém no rosto trazia ainda um sorriso
de felicidade e seus olhos negros fitavam o alto da palmeira, que
estava carregada de frutinhos escuros.
Itaki então mandou que apanhassem os frutos em alguidar de
madeira, obtendo um vinho avermelhado que batizou de AÇAÍ,
em homenagem a sua filha (IAÇÃ invertido). Alimentou
seu povo e, a partir deste dia, suspendeu sua ordem de sacrificar
as crianças.
Mandioca
Há muito tempo atrás, quando ainda
não existia a cidade de Belém, vivia neste local uma
tribo indígena muito numerosa.
Como os alimentos eram escassos, tornava-se muito difícil
conseguir comida para todos os índios da tribo. Então
o cacique Itaki tomou uma decisão muito cruel. Resolveu que
a partir daquele dia todas as crianças que nascessem seriam
sacrificadas para evitar o aumento populacional de sua tribo.
Até que um dia a filha do cacique, chamada IAÇÃ,
deu à luz uma bonita menina, que também teve de ser
sacrificada.
IAÇÃ ficou desesperada, chorava todas as noites de
saudades de sua filhinha. Ficou vários dias enclausurada
em sua tenda e pediu à Tupã que mostrasse ao seu pai
outra maneira de ajudar seu povo, sem o sacrifício das crianças.
Certa noite de lua IAÇÃ ouviu um choro de criança.
Aproximou-se da porta de sua oca e viu sua linda filhinha sorridente,
ao pé de uma esbelta palmeira. Inicialmente ficou estática,
mas logo depois, lançou-se em direção à
filha, abraçando - a . Porém misteriosamente sua filha
desapareceu.
IAÇÃ, inconsolável, chorou muito até
desfalecer. No dia seguinte seu corpo foi encontrado abraçado
ao tronco da palmeira, porém no rosto trazia ainda um sorriso
de felicidade e seus olhos negros fitavam o alto da palmeira, que
estava carregada de frutinhos escuros.
Itaki então mandou que apanhassem os frutos em alguidar de
madeira, obtendo um vinho avermelhado que batizou de AÇAÍ,
em homenagem a sua filha (IAÇÃ invertido). Alimentou
seu povo e, a partir deste dia, suspendeu sua ordem de sacrificar
as crianças.
Uirapuru
Um jovem guerreiro apaixonou-se pela esposa
do grande cacique. Como não poderia se aproximar dela, pediu
à Tupã que o transformasse em um pássaro.
Tupã transformou - o em um pássaro vermelho telha,
que à noite cantava para sua amada. Porém foi o cacique
que notou seu canto. Ficou tão fascinado que perseguiu o
pássaro para prendê-lo. O Uirapuru vôou para
a floresta e o cacique se perdeu.
À noite, o Uirapuru voltou e cantou para sua amada. Canta
sempre, esperando que um dia ela descubra o seu canto e o seu encanto.
É por isso que o Uirapuru é considerado um amuleto
destinado a proporcionar felicidade nos negócios e no amor
Cobra grande
É uma das mais conhecidas lendas do folclore
amazônico.
Conta a lenda que em uma certa tribo indígena da Amazônia,
uma índia, grávida da Boiúna (Cobra-grande,
Sucuri), deu à luz a duas crianças gêmeas. Um
menino, que recebeu o nome de Honorato ou Nonato, e uma menina,
chamada de Maria. Para ficar livre dos filhos, a mãe jogou
as duas crianças no rio.
Lá no rio eles se criaram. Honorato não fazia nenhum
mal, mas sua irmã tinha uma personalidade muito perversa.
Causava sérios prejuízos aos outros animais e também
às pessoas.
Eram tantas as maldades praticadas por ela que Honorato acabou por
matá-la para pôr fim às suas perversidades.
Honorato, em algumas noites de luar, perdia o seu encanto e adquiria
a forma humana transformando-se em um belo e elegante rapaz, deixando
as águas para levar uma vida normal na terra.
Para que se quebrasse o encanto de Honorato era preciso que alguém
tivesse muita coragem para derramar leite na boca da enorme cobra,
fazendo um ferimento na cabeça até sair sangue. Mas
ninguém tinha coragem de enfrentar o enorme monstro. Até
que um dia um soldado de Cametá (município do Pará)
conseguiu libertar Honorato do terrível encanto, deixando
de ser cobra d'água para viver na terra com sua família.
Os rios
A origem dos rios Xingu e Amazonas também
faz parte do imaginário indígena. Dizem que antigamente
era tudo seco. Juruna morava dentro do mato e não tinha água
nem rio. Juriti era a dona da água, que a guardava em três
tambores.
Os filhos de Cinaã estavam com sede e foram pedir água
para o passarinho, que não deu e disse: "Seu pai é
Pajé muito grande, porque não dá água
para vocês?" Aí voltaram para casa chorando muito.
Cinaã perguntou porque estavam chorando e eles contaram.
Cinaã disse para eles não irem mais lá que
era perigoso, tinha peixe dentro dos tambores. Mas eles foram assim
mesmo e quebraram os tambores. Quando a água saiu, Juriti
virou bicho. Os irmãos pularam longe, mas o peixe grande
que estava lá dentro engoliu Rubiatá (um dos irmãos)
, que ficou com as pernas fora da boca.
Os outros dois irmãos começaram a correr e foram fazendo
rios e cachoeiras. O peixe grande foi atrás levando água
e fazendo o rio Xingu. Continuaram até chegar no Amazonas.
Lá os irmãos pegaram Rubiatá, que estava morto.
Cortaram suas pernas, pegaram o sangue e sopraram. Rubiatá
virou gente novamente. Depois eles sopraram a água lá
no Amazonas e o rio ficou muito largo. Voltaram para casa e disseram
que haviam quebrado os tambores e que teriam água por toda
a vida para beber.
A Lua
Outra lenda indígena conta sobre a origem
da lua. Manduka namorava sua irmã. Todas as noites ia deitar
com ela, mas não mostrava o rosto e nem falava, para não
ser identificado. A irmã, tentando descobrir quem era, passou
tinta de jenipapo no rosto de Manduka.
Manduka lavou o rosto porém a marca da tinta não saiu.
Então ela descobriu quem era. Ficou com vergonha, muito brava
e chorou muito. Manduka também ficou com vergonha pois todos
passaram a saber o que ele havia feito.
Então Manduka subiu numa árvore que ia até
o céu. Depois desceu e foi dizer aos Jurunas que ia voltar
pra árvore e não desceria nunca mais. Levou uma cotia
pra não se sentir muito só. Aí virou lua. E
é por isso que a lua tem manchas escuras, por causa do jenipapo
que a irmã passou em Manduka. No meio da lua costuma aparecer
uma cotia comendo coco. É a outra mancha que a lua tem.
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